domingo, 7 de junho de 2009

REFÉNS DE UMA FÉ - Texto de Pascoal Naib

Consultando qualquer dicionário, nos deparamos com o significado da palavra "refém" - que indica uma pessoa submetida ao poder de outra, sofrendo ameaças (físicas ou emocionais) e podendo ser objeto de represálias quando não cumpre determinado acordo. Observamos esse termo constantemente nos noticiários policiais e cabe perguntar: como uma pessoa pode ser vítima e refém de uma fé? É uma questão importante a ser discutida nos nossos dias principalmente se nos indagarmos quem ou qual denominação religiosa pode atuar como o “sequestrador” desse livre arbítrio e censor da livre circulação das idéias.

Ao ser refém de uma fé, a realidade é reduzida a uma “verdade” única onde todos desse grupo são coagidos a pensar e agir da mesma maneira, suprimindo o diálogo com o uso do autoritarismo e do fundamentalismo. Implanta-se uma visão de mundo maniqueísta dividindo tudo em dois lados pré-determinados existindo uma “demonização” para com os que estão fora desse círculo protetor. Quando a religião autoritária manipula a questão da humildade e submissão para com Deus, na realidade, ela prepara o terreno para infiltrar suas ideologias para uma obediência cega a homens. Se consigo inculcar de forma subliminar que desobedecer a essa religião é o mesmo que desobedecer a Deus, o trabalho de persuasão e de aprisionamento mental já está iniciado com sucesso! Coloca-se assim um Deus mais preocupado em controlar, vigiar e punir seus adoradores, do que um Deus que pratique o real amor, o diálogo construtivo e a necessidade dos seres humanos interagirem para poder crescer espiritualmente. Cabe aqui as palavras de Leonardo Boff, que cita: 


“Quem acredita que o seu ponto de vista é absoluto e o único válido está condenado a ser intolerante face a todos os outros. Esta atitude fechada leva ao desprezo dos outros, à sua discriminação, à violência e até a guerras”.

Um dos mecanismos mais radicais e desumanos utilizados para cercear a liberdade de expressão e que decreta uma “morte” social do adepto e onde o convívio com amigos e parentes é terminantemente proibido é a excomunhão. Em muitos casos, é o último recurso para um controle de um grupo ou denominação religiosa que se sente ameaçada e com isso “marca” ou “enquadra” adeptos que porventura possam ameaçar o status quo da organização.

Observamos isso em algumas denominações religiosas, mas convém mostrar um exemplo mais radical e ainda praticado atualmente no grupo mundialmente conhecido como Testemunhas de Jeová. A excomunhão praticada por essa denominação religiosa recebe o nome de desassociação e a orientação é bem explícita, como podemos observar em publicações das mesmas. Por exemplo, o mensário Nosso Ministério do Reino de 08/02/02, parágrafos 3, 4 e 9, salienta: 

“Assim, evitamos também o convívio social com quem foi expulso. Isso significa que não vamos com ele a piqueniques, festas, jogos, compras, ao cinema, nem tomamos refeições com ele, quer em casa quer num restaurante (...) E quanto a falar com o desassociado? (...) Um simples ‘Oi’ dito a alguém pode ser o primeiro passo para uma conversa ou mesmo para amizade. Queremos dar este primeiro passo com alguém desassociado? (...) Mesmo que houvesse alguns assuntos familiares que exigissem contato, este certamente ficaria reduzido ao mínimo, em harmonia com a ordem divina de 'cessar de ter convivência com qualquer' que tenha pecado e não tenha se arrependido”.

Independente de nossa crença, ou mesmo não crença, cabe observar que vivemos dentro de um contexto social onde todas as formas de intolerância e injustiça se tornam um câncer para uma harmonia social exigindo sempre uma resposta firme e determinada pautada numa ética e cidadania. Podemos então concluir que vivemos numa época em que devemos ter como meta a tolerância à diversidade religiosa, o respeito à autonomia do ser humano e principalmente a consciência de amar incondicionalmente ao nosso próximo. A declaração universal dos direitos humanos afirma que toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença. Nelson Mandela afirma que as pessoas não nascem odiando e nem discriminando e se aprenderam a odiar, podem ser ensinadas a amar.
http://indicetj.com/pascoal/1.htm



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