Responsabilidade Comunal
Parentes e anteriores amigos de dissociados [1] precisam dar-se conta de sua parcela de responsabilidade no tratamento que é dispensado aos que saem da organização religiosa Testemunhas de Jeová.
"Alguns têm causado a morte de pessoas deliberadamente ou por negligência. Outros têm participado em matanças coletivas, talvez persuadidos por líderes religiosos, de que esta era a vontade de Deus. Ainda outros têm perseguido e matado servos de Deus. Mesmo que não tenhamos feito algo assim, porém, compartilhamos a responsabilidade comunal pela perda de vidas humanas porque não conhecíamos a lei e a vontade de Deus." - A Sentinela, 15 de novembro de 1995, página 16, parágrafo 5 (grifo acrescentado).
A Associação Torre de Vigia, sabe perfeitamente bem o que significa o termo "responsabilidade comunal" (ou culpa comunal) e durante décadas tem feito extensivo uso e aplicação dessa expressão. [2]
É improvável, porém, que os associados àquela organização tenham a noção exata do que este termo representa, muito menos o que se espera que façam para eximir-se daquela responsabilidade.
A prática da rejeição
Vamos fixar nossa atenção na questão do tratamento que dispensam àqueles que, em determinado momento, decidiram voluntariamente dissociar-se da organização religiosa a qual pertenciam.
Citando um caso levado perante uma corte federal de apelação (nos EUA), a Sentinela de 15 de abril de 1988, página 29, parágrafos 18 e 19 afirma:
"'A rejeição é praticada pelas Testemunhas de Jeová de acordo com a sua interpretação do texto canônico ...'. O tribunal de apelação reconheceu que, mesmo que a mulher se sentisse angustiada porque seus anteriores conhecidos preferiam não conversar com ela . . . 'A garantia constitucional do livre exercício da religião requer que a sociedade tolere o tipo de danos sofridos por [ela] como preço que bem merece ser pago para proteger o direito da diferença religiosa que todos os cidadãos usufruem'". (grifos acrescentados)
De modo que, ancorando-se em seu "direito" religioso, uma norma organizacional que determina o tratamento que deve ser dispensado aos dissociados se perpetua, mesmo a custo de muita "angústia" e "danos" emocionais.
Mas, o que exatamente envolve esta norma? E quais são as implicações disso?
As Testemunhas de Jeová não podem mais conversar com tais pessoas, nem mesmo cumprimentá-las: "todos sabemos de experiência no decorrer dos anos que um simples "Oi" dito a alguém pode ser o primeiro passo para uma conversa ou mesmo para amizade." (w81 15/12, pp. 20 § 23)
Recusam-se de ter associação a qualquer nível espiritual ou social, nem mesmo para tomar uma refeição juntos: "Uma refeição é uma ocasião de descontração e contato social. Portanto, a Bíblia exclui aqui também a associação social, tal como participar ... num piquenique ou em festa, jogo de bola, ida à praia ou ao cinema, ou tomar uma refeição com ele". (w81 15/12, pp. 20 § 18)
Conflito de emoções e incoerência doutrinal: ensina-se que um cônjuge que se dissocia altera os vínculos espirituais, mas isso não rompe os vínculos consangüíneos, os tratos e as afeições familiares normais. Mas quando é um parente que vive fora do círculo familiar imediato "pode ser possível ter quase nenhum contato com tal parente. Mesmo que houvesse alguns assuntos familiares que exigissem contato, este certamente ficaria reduzido ao mínimo. ... isto pode ser difícil, por causa das emoções e dos vínculos familiares, tais como o amor de avós pelos netos." (w88, 15/4, pp. 28 § 13-15)
Faz-se parecer que "os membros da Igreja que [ela] decidiu abandonar concluíram que não mais desejam associar-se com ela" ... "seus anteriores conhecidos preferiram não conversar com ela"... como se os membros agissem assim exclusivamente por vontade própria. (veja a w88, 15/4, pp. 29, § 18-19)
Ameaça-se com expulsão: "se não deixar de se associar com a pessoa expulsa, ele se torna 'partícipe (apoiando ou compartilhando) das obras iníquas' e terá de ser removido da congregação, expulso." (w81, 15/12, pp. 21, § 27)
Experiências com parentes
Apesar dos aspectos mencionados acima, a experiência tem mostrado que, na prática, algumas Testemunhas de Jeová não agem de modo uniforme no trato com seus parentes dissociados. Eis alguns relatos pessoais que ilustram isso:
"Tenho na minha família 5 pessoas cujas vidas são controladas pelo Corpo Governante. Destas, 3 são batizadas. Uma dessas pessoas é o meu irmão que, assim que o informei acerca da minha desassociação, disse-me que em hipótese alguma deixaria de falar comigo e de ser meu amigo. Quanto ao meu primo, que também é meu vizinho e ancião, cuja convivência conosco era como a de um irmão, se nega a me dirigir um simples cumprimento. Deixa de visitar meus pais porque não deseja encontrar-me e tem passado esse pensamento insano aos filhos. O mais velho, ainda não batizado, mantém o mesmo tratamento que dispensava a mim antes do ocorrido. Quanto as duas filhas menores, estas passam por mim como se eu fosse um cachorro doente, indigno de um mero olhar." (E. Aguiar)
"Tenho 28 parentes que são Testemunhas. Desses, 4 (que incluem meu pai, minha mãe, minha irmã e seu marido) me tratam normalmente. Os outros mandam recados apenas: "fala pra ele que mandei um abraço!"; "diz pro ... que ele continua no meu coração"; "diga que eu continuo admirando ele". Sempre mandam recados e abraços. Mas em nenhum momento, nesses 4 anos, algum deles dirigiu a palavra a mim. Meus primos, meus tios, os filhos dos primos, são muitos. Não tenho nenhum contato com eles além desses recados. Acho interessante quando os vejo na rua ou no mercado, me olham de uma maneira diferente, com um brilho no olhar que me deixa intrigado. Me sinto como se fosse uma estrela de cinema, um astro, ou super pop. Qualquer dia vou dar um autógrafo... Esse jeito de olhar eu não vejo só nos parentes, vejo também nos "irmãos" que conviviam comigo - parece que eles querem chegar e me dar um abraço, ou então tocar no meu ombro e ver se ainda existo mesmo. É essa a impressão que dá pelo olhar deles." (Armando)
"Desde que me dissociei (há 22 anos), minha mãe nunca mais falou comigo por eu ser para ela uma mundana. ... Você acredita que na passagem do ano 2000 para 2001, pela primeira vez, a minha mãe me ligou para dizer que queria se despedir de mim porque ela sabia que o Armagedom ia acontecer naqueles dias e eu iria morrer, então ela queria me dizer adeus? Olha, você não pode imaginar como eu sofro com isso: ter minha mãe querida, mas não a ter. Costumo dizer que é uma dor maior do que se minha mãe querida tivesse falecido, afinal, não tenho mais minha mãe..." (M. P. Marques)
"Tenho um irmão que é ancião e uma irmã que é publicadora. Meu irmão me ignora solenemente. Minha irmã aceitou minha posição com serenidade, respeitando meu livre arbítrio..." (Nair Martinha)
Essa situação acaba gerando mais angústia na mente dos que se afastaram: Por que uns agem de forma mais amorosa, fraternal, ao passo que outros de forma tão intransigente para com a norma organizacional?
Esses exemplos nos dão uma boa noção da incoerência, por parte das Testemunhas de Jeová, da aplicação da norma instituída pelo Corpo Governante, no que tange ao tratamento aos parentes dissociados. Mas isso não atenua de forma alguma o problema. Ele existe e tem implicações gravíssimas. É pai que não fala com o filho! É irmão que não fala com irmão! É mãe que não fala com a filha! São sogros, noras, genros, cunhados, primos, sobrinhos, tios, avôs e netos que não se relacionam mais normalmente como família! Como pode o Corpo Governante minar ou destruir laços tão importantes, como são os laços de família e ainda aclamar isso como "preço que bem merece ser pago para proteger o direito da diferença religiosa"?
Meu marido é um desassociado meu irmão tb, eu sou TJ há 21 anos e ~]n exito em falar e me relacionar com eles apesar de tudo são uma parte de mim, se Deus achar q isso é errado q ele haja da maneira dele. Não estou aki pra seguir CG nem Anciãos se alguém eu só ñ quero q todos achem q são melhores ou + importantes q eu pq todos vão morrer e ser a menma coisa q eu. Obg pelo espaço.
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